quarta-feira, 21 de agosto de 2013

UMA PINCELADA SOBRE A ARTE E SUA MORTE NA ERA CONTEMPORÂNEO,                        por Mauricio Belarmino dos Santos (UNEAL)

Por sua obra que agitou o século XIX ao declarar que Deus estava morto,  Nietzsche se tornou o filósofos mais incompreendido e mal interpretado da história. Parafraseado o filósofo, podemos afirmar  que die Kunst ist tot. Sim, a arte está morta. E não obstante podemos detectar esse feito ao vermos o processo de massificação que a arte obteve e vem obtendo ao longo desses últimos anos, a depreciação que ocorre nas artes em geral (música, pintura, teatro, literatura, etc.), e é a chamada cultura de massa a grande contribuinte para esse declínio.
A valoração de uma obra artística se dar pelo equilíbrio, a subjetividade, a estética em sim, que em harmonia enaltece e deslumbra quem contempla uma obra de arte. Passando desde a arte antiga até os dias que se seguem vemos o reflexo de cada momento cultural de uma nação, de um determinado povo em uma determinada época. Assim como as escolas literária no Brasil que surgem ditando regras a serem seguidas, as chamadas tendências que eram seguidas a risca para quem quisesse fazer bonito na hora de compor uma obra artística. Mas quem é que pode dizer o que é ou não é arte?
Mesmo sendo um conjunto de estética, a arte tem seu valor além da emoção, do sentimento, das leituras nas entrelinhas, sua função é puramente também a de chocar, de perturbar, de tirar o “leitor“ de sua zona de conforto e lançá-lo diante de fatos sociais que façam com que o ser humano possa refletir e se perceber como cidadão. Sendo assim a arte que também pode ser sinônimo de beleza, encontra seu valor na feiura, no grotesco do quando contemplamos o caos que se instaura nessa sociedade corruptível e que o artista faz questão de transpor isso para suas obras, como podemos perceber nas palavras de Leminski:

As pessoas sem imaginação estão sempre querendo que a arte sirva para alguma coisa. Prestar o serviço militar. Dar lucro. Não enxergam que a arte (a poesia é arte) é a única coisa, chance que o homem tem de vivenciar a experiência de um mundo da liberdade, além da necessidade. As utopias, afinal de contas, são sobretudo, obras de arte e obras de arte são rebeldias.
A rebeldia é um bem absoluto. Sua manifestação na linguagem, nós, homens, chamamos poesia, inestimável inutensílio.
                                                                           (Paulo Leminski)

Qualquer ser humano que faz arte é denominado de artista, e este faz sua obras baseando-se em suas emoções, seus sentimentos que logo são registrados na música (som), dança (movimento), pintura (cor), escultura (volume),  teatro (representação), literatura (palavra), cinema (fotografia+ animação). Com os adventos das novas tecnologias surgem mais formas de o artista expressar seus sentimentos, dessa feita através da chamada artes digitais.
Repensando o valor da arte, sobretudo a arte literária, percebemos um momento de depreciação que ocorre com a literatura no Brasil e no mundo. Escrever tem se tornado um ato banal e que serve apenas para o enriquecimento das editoras. Esse processo começa a ter sua força no industrialismo, como por exemplo com os livros infantis, as histórias são recriadas, são  “melhoradas“ para atenderem a demanda do mercado, os livros começam então, a ser produto de consumo dos senhores que tinham o domínio da leitura.
Este fato não se distancia da nossa realidade hoje, os livros de auto-ajuda invadiram as prateleiras e brilham nas estantes das casas das pessoas, imploram para serem lidos, celebridades apontam como um marco em suas vidas, tal livros ajudaram aos leitores salvar o casamento, conseguiram casa, dinheiro e status. São leituras superficiais que não propõe um viagem ao universo da criação, não ultrapassam os limites da língua e são mera repetições, mas que sempre estão nas listas dos mais vendidos e consequentemente são denominados de Best Seller. 
Ora, a literatura é se não, como Bathers definiu, é um ato prazerosos e que que propõe um fruição entre o leitor e o texto, é por assim dizer um contato erótico, um jogo prazeroso em que o leitor se percebe seduzido a cada leitura, a cada palavra. E esse tipo de prazer é encontrado unicamente na arte, pois a obra artística é eterna, a obra de massa é efêmera.


Traduzir-se


Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte — que é uma questão de vida ou morte — será arte?

De Na Vertigem do Dia (1975-1980)

No poema acima de Fereirra Gullar, percebemos o efeito que a arte tem em causar no eu-lírico, deixando-o confuso e dividido em duas partes, uma num conformismo e outro num misto de inquietação, de não conformação com o universo ao seu redor. Aqui o eu-lírico apresenta duas faces, dois lados  sendo um negativo e o outro positivo, mas é nos versos finais que enfatiza o efeito da arte:
Traduzir uma parte na outra parte — que é uma questão de vida ou morte — será arte?

De igual modo o cinema, que é a sétima arte, vem sofrendo com o processo de depreciação, ao tomarmos o cinema nacional como exemplo, podemos perceber o retrocesso que este vem tomando em detrimento dos lucros.  O Novo Cinema Novo iniciado por Anselmo Duarte com seu premiado “O pagador de Promessas” e que tem destaque também os cineastas Glauber Rocha com suas películas Deus e o diabo na terra do sol e Terra em transe,   e Carlos Diegues com Ganga Zumba.   O ápice do cinema nacional vem com o brilhante Carlota Joaquina, de Carla Camurate que eleva o cinema depois de este ter passado por uma longa leva de pornochanchadas.
Hoje os ditos filmes de favela, como o Tropa de Elite 1 e 2,  ganham destaques nas mídias nacionais, assim como a música de baixa qualidade, os livros de auto-ajuda, as películas comercias são extremamente divulgadas e vendidas como produto de extrema qualidade, porém sem nenhum resquício de arte.
A mídia tem sua grande contribuição no desfacelamento das obras artísticas, pois os ditos programas de auditórios, os telejornais, não se preocupam em divulgar ou propagar o valor artístico, limitam-se apenas a distribuir em nome das competições pela audiência aquilo que a massa está acostumada a ver: pornografia explícita, baixaria, e uma dose de humor de baixo nível, onde homossexuais, mulheres e portadores de necessidades especiais são as vítimas das constantes piadas. O público leigo toma aquilo como obra preciosa, pois este nunca fora ensinado o que é arte.

A agitação que deveria vir por meio das manifestações artísticas não vem, não são divulgado, como era feito nas escolas literárias, como ocorreu na semana de 22, ali os jovens se reuniram o promoveram a Semana de Arte Moderna, sem duvidas uma das maiores manifestações artísticas do Brasil, pois foram estes artistas que trouxeram dores de cabeças aos senhores parnasianos intocáveis. As vanguardas europeias pintam como tendência com seus ismos (expressionismo, dadaísmo, futurismo, cubismo, surrealismo). Ora assim, como em tudo, houve a resistência por parte dos conservadores que se viam diante do inexplicável que os artistas modernos propunham.

Talvez estejamos vivenciado o mesmo processo hoje, como a arte que está em constante mutação e que acompanha as mudanças sociais, percebemos uma inquietação em aceitar novas tendências, sobretudo nas pinturas e na dança com o graffit e o street dance, algumas manifestações de arte que surgem nas ruas são elevadas a status de arte, outras não. Contudo quem pode definir o que é arte? Quem alega que uma obra tem valor artístico ou não? Se pararmos para pensar, a arte sempre esteve nas mãos das elites, era algo exclusivo dessa classe (e de certa foram ainda é).
A falta de investimento do governo em programas que incentivem a obra artística, como no caso do teatro, este que surgiu nas ruas e ganhou grande representação, vive hoje um processo de decadência uma vez que não há incentivo nem divulgação de grandes peças. Em Alagoas o caso chega  a ser mais grave com a fomentação de peças que visam unicamente o lucro e não propõe nenhum tipo de reflexão sobre a arte nem sobre  a sociedade.
Mais uma vez voltamos ao lucro, o capitalismo que faz com que o homem corra atrás apenas do lucro, do bem estar, do conforto, do acumular de riquezas, Sem dúvidas isso teve início com o processo de industrialização, transformando o homem em máquina de trabalho, em gado, sem tempo para pensar ou refletir sobre sua vida e sem tempo para as manifestações sociais.  Tudo isso começa a ir para o lixo, como diz Rita Lee tudo “vira bosta“.
Hoje somos obrigados a ouvir involuntariamente os calipsos da vida, os créus, e os tchans, num processo de banalização onde o corpo entre em choque com a cultura, a sexualidade feminina que as transforma em mulheres frutas e cachorronas. Não há mais as musas inspiradoras, existe apenas a massificação. Essa é a cultura que vende, “a prostituição artística“, como o disse muito bem Gabriel Pensador:
A-aha! Vai sair na revista e o povo vai dizer que você é artista Porque agora bunda é arte, é cultura, é esporte É até filosofia, quase uma religião


Sendo assim, percebemos que a arte está de fato adormecida, está morta, esperando o momento certo para o seu ressurgimento, assim como no Renascimento, é preciso que haja uma conscientização. O professores precisam aprender o que é arte, para fomentar essa sede em seus discípulos (se bem que na maioria dos casos os proprios professores não tem noção do que é arte, e acabam propagando um ensino errôneo levando-os apenas a pintar como se isso fosse arte), é necessário que os que detém o conhecimento do poder que há na arte não se conforme e libere a grande expressão que há dentro de si.   

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Do Tempo


Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?

(Cecília Meireles)


Esse poema de Cecília Meireles fala de forma singular sobre as mudanças ocorridas com o homem, sejam mudanças físicas, sejam mudanças psicológicas. O texto já começa com a afirmação em seus primeiros versos: "Eu não tinha este rosto de hoje/assim calmo". Há supostamente uma passagem de tempo que não é reconhecida pelo eu-lírico, mas que marca profundamente o seu estado de epifania ao descobrir a verdade acentuadas pelas expressões triste, magro, olhos vazios e lábio amargo.
As mãos sem forças são imcapazes de produzir o bem, não só a si, mas ao próximo também. Além de tornarem as relações frias na certeza de sua morte devido ao tempo em reclusão introspecta. Entretanto em algum lugar do passado ficou a vida que não se tem e não se sabe se de fato é o dono.

Em que espelho temos perdido a nossa face e não damos por essa(s) mudança(s)? Acabamos nos acostumando ou não notamos o processo que sofremos paulatinamente?
Nossos amigos, parentes e amantes são os que mais sofrem com estas mudanças que no permitimos sem permitir. E quando nós notamos que houve uma evolução será que ainda há tempo pra mudar, regredir?
Salomão em suas sábias palavras diz que há tempo para tudo na terra, então há o tempo da mudança. Contudo nem todas nos agrada. O tempo todo tudo muda no mundo, o clima, a língua, a moda e as pessoas. Vezes gostamos, vezes não.
Acho incrível como as relações interpessoais tem sofrido grandes mudanças nestes dias tão nebulosos. Como Bergman já propunha em seus filmes Sonata de Outono e Luz de Inverno, até mesmo as relações familiares tem sido esfacelada e esmagada por nossa solidão e por nossos medos. Ou em alguns casos mais graves por ambições que colocam o desejo e autosatisfação em primeiro plano. Não tempos visto como nossas fragilidades nos envelhece os ossos, não sentimos amor pelo próximo como fora anteriormente. E o pior, não sabe-se admitir o erro.
A modernidade tem sim sua grande parcela de culpa, sempre jogando informação de forma demasiada e por muitas das vezes ocas e nada mais. O conforto, a comodidade atrai ao homem. Em outros casos, é preciso batalhar para por a casa em ordem, não deixar nada faltar em casa, e não sobra tempo para se relacionar com a família.
É preciso dar um tempo para nós mesmos, é preciso reavivar a chama da amizade que ainda arde em nós. É preciso saber respeitar as opiniões, saber ouvir, amar, cantar.
Cuidar de quem amamos faz um bem enorme a nossa alma. Principalemente olhar nos olhos de nossos amigosparentesamantes e dizer de peito aberto e sem vergonha de ser feliz: Eu te amo.







Some Like It Hot

Confesso que nunca mais tinha tido boas crises de risos com um filme, as comédias perderam sua essência, sobretudo as ditas comédias americanas estudantis, que como sempre, vem carregada de piadas e seus clichês pejorativos. Porém hoje me deparei com uma comédia nova, lançada em 1959. Você pode até estranhar o fato de eu a chamar de nova, isso se dar por ser um clássico, clássico nunca envelhece, nunca morre.
Some Like It Hot, é estrelado pela graciosa Marilin Monroe a eterna diva da sensualidade e da beleza, até os dias de hoje copiada e reverenciada, e pelos talentosos Tony Curtis e Jack Lemmon, e tem a direção certa de Billy Wilder que conquistou nada menos que oito prêmios Oscar por suas obras.
O fato é que este filme é um marco na história do cinema por trazer em seu roteiro temas tabus e que hoje são imitadissimos por muitos diretores (vide As Branquelas), contudo não chegam as graças da trama endriabada de Quanto Mais Quente Melhor (título brasileiro).
Imperdível para qualquer cinéfilo ou para pessoas que curtam bons filmes e comédias de farsa maluca.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Do Amor


Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


Esse poema de Drummond permance vivo em nossas mentes até o dia de hoje, ou não seria um clássico. Mas ao pensarmos no ato de amar, como defini-lo?
AMAR, verbo transitivo direto, que não precisa de um apoio para que o objeto seja alcançado.
Em dias atuais a humanidade vem se perdendo no caminho e cada vez mais desconhece o que é o amor. Não se pode afirmar o que realmente acontece com as pessoas que cada vez mostram-se vazias e fúteis. Nossas máscaras são sempre postas e estamos diante de um perpétuo baile de máscaras com nossa dança desenfreada e desajustada. Não se toca não se sente não vê.
As salas de bate papos vivem lotadas de pessoas em busca de sua “cara metade”, as relações virtuais ganham mais espaço que a vida real. A fantasia, a busca pelo sexo fácil, rápido e gratuito tem sido o grande joguete do momento. Nisso se vê a falta de amor próprio ou seria o medo de encarar o outro face a face? Ou seria um mecanismo para acabar de vez com a solidão?
A TV, o rádio e o cinema vendem um amor fácil, rápido. Nossos ídolos nos embriagam com seus amores e casamentos pomposos, mesmo que estes durem apenas dias. As meninas, sobretudo, têm suas fantasias alimentadas às asas da imaginação com casamentos gloriosos à La Kate ou romances frívolos de reality show ou esperam viver uma saga crepuscular. Os meninos esperam uma transa e nada mais ( quiçá que a camisinha não estoure).
Ao que se entende por família a situação tende a ser pior, cada vez mais vem se deteriorando, enfraquecendo com vícios das drogas como álcool e craque, com a falta de afeto e outras coisas. O número de divórcios tem crescido nos últimos anos, segundo dados do IBGE. Outras vezes somos surpreendidos com homicídios ocorridos dentro da própria família ou os ditos crimes passionais. É nesse estado desgastante que temos visto a família atual.
Contudo ainda creio que existe uma chance para o amor, creio que a esperança não morreu e com um pouco de sorte veremos o homem mudar, não sei quando nem como. Acho que isso é fé.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O Réu Tornou.

Depois de anos luz longe deste blog, resolvi voltar a escrever (ainda que por inveja de minha amiga Mestra Daiane) e dar continuidade a este ato que é tão significativo na vida do ser humano, pois desde os primórdio o homem vem manifestando sua posição ideológica através da escrita.
Escrever faz bem a alma, e ler é muito melhor. Esta segunda é chave da saída da caverna de Platão, embora muitos dos jovens levantem-se munidos da chave e tranque a porta para não sair. A escuridão faz bem a eles.

Aqui falaremos sobre arte, cultura , educação, política de forma crítica analítica e sintética.

A Casa de Farinha está aberta.

Sejam bem vindos.

Como diz o poeta: A casa é sua.